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MORDIDELA

JOSÉ CARLOS MADEIRA

MORDIDELA

JOSÉ CARLOS MADEIRA

“OLHA ANTÓNIO…” ou os versos de “E depois do Adeus”


O Principe

10.09.14

 

Escritos à Quarta  

 

 

“OLHA ANTÓNIO…”

ou os versos de “E depois do Adeus”

 

O país esperou com expectativa a confrontação televisiva de ontem dos candidatos socialistas á liderança do partido e a possível futuro primeiro-ministro! António José Seguro e António Costa. Acabou por ser um debate com uma total nulidade de ideias para as questões reais do país, ideal para cada uma das hostes de apoiantes impor a bandeira da vitória mas que não interessará nada nem resultará por si em alguma derrota.

 

Dos dois Antónios, ficamos a não saber o essencial das suas pretensões para o país neste momento tão crítico como o de há quatro anos, em que tudo está por ser feito ao nível das reformas essenciais. De ambos não sabemos que tipo de estado pretendem, que tipo de sociedade, apenas ficam e restam no ar vagas intenções e desejos que fomos ouvindo aqui e ali.

 

Sabemos que António, o Seguro, deseja uma sociedade voltada para o crescimento, para o emprego e desenvolvimento, não vai aumentar os impostos, baixa o Iva da restauração e já fez as contas, pronto! – Como se fosse algo tão simples como carregar no botão da Máquina dos Desejos na Feira Popular e de pronto aparece o Mago e já está!..Ou como quem busca busca no Google uma receita de arroz-doce ou farófias (que desculpem lá as outras mães mas as da minha mãezinha eram únicas). Nem uma ideia concreta que tipo de Estado Social quer, como o vai sustentar e manter, que alterações profundas na sociedade portuguesa advoga e pretende fazer. Repetiu vezes contínuas a sua seriedade e a necessidade de uma nova forma de fazer politica mas utilizou essencialmente no debate uma receita antiga de ataque pessoal e intimidação mais ao nível dos tempos do PREC. António, o Costa, bem podia ter tido a presença de espirito e ter respondido às acusações de traição e deslealdade e falta de solidariedade com um “Olhe que não, olhe que não, (Dr. António) ” – relembrando-nos o verão quente de 1975 e o célebre debate entre Soares e Cunhal. Teria sido um momento único de televisão! Mas não, ficou-se nas cordas do ringue, amorfo, sustentando e esquivando-se com os seus princípios de consciência. No final ficou a ideia que o desejo tão intenso destes debates que tinha António, o Seguro, era essencialmente para publicamente, olhos nos olhos e perante uma plateia enorme chamar de traidor e desleal ao colega António, o Costa! Veio-me a imagem de um político e amante traído do seculo XIX que desafiaria o seu rival para um duelo às portas do Largo do Rato, daria um argumento fabuloso para uma obra de Camilo Castelo-Branco.

 

António, o Seguro, devia saber a regra de ouro de quem ocupa um cargo de direcção partidária e até em outros sectores, um líder assume-se desde o seu primeiro dia e não se deixa anular ou será sempre posto em causa e a qualquer momento será confrontado com o desafio ao seu poder. Mas este António esclareceu-nos prosaicamente que o se anulou por iniciativa própria durante bastante tempo para bem de todos, como uma dona de casa que tenta preservar o lar entre guerras e birras dos filhos, das zangas do marido com a sogra e se vai mantendo num silêncio podre à frente da família e um dia decide pôr cobro a tudo e dá uma valente sofá aos pequenotes, põe as malas á porta ao marido e a mãe num lar! Esqueceu-se da chamada “noite das facas frias” em que quando é confrontado pelo outro António, o Costa, que depois recua no seu desejo de assaltar o poder, acaba a pedir abracinhos ao seu rival e a propor acordos a lembrar as guerras “de Alecrim e Manjerona” uma ópera sátira e jocosa como toda esta trama. A corroborar a sua constante desastrada estratégia, se de facto a tem e não é tudo mais feitio e temperamento, o que será mais perigoso, ficaram ontem os portugueses com um sorriso cínico e trocista quando escutaram da sua voz que se demitirá senão tiver outra opção que não seja aumentar os impostos. Não explica qual é a sua equação, que contas fez, de onde subtrai, onde acrescenta e divide para multiplicar por todos. Sabemos que se for eleito primeiro-ministro será em 2015 e só será hipoteticamente responsável pelo orçamento do ano seguinte! E no próximo ano várias contingências, essencialmente internacionais, poderão alterar por completo todas as contas e equações idealizadas… ou pretenderá rasgar todos os compromissos com a união europeia e ser um outsider – não lhe reconheço tanta ousadia e coragem (ou melhor irresponsabilidade). Todo o país percebeu a “azelhice” e comentou-a durante o dia, como aconteceu na noite das eleições Europeias que começou com o seu candidato aos “saltos” reivindicando uma vitória estrondosa que depois se veio a verificar para todos que foi pífia mas que ainda hoje o António, o Seguro, assume como histórica fazendo uma análise tal qual um treinador de futebol que venceu com um penalti no último minuto a equipa rival e diz aos associados que deu um “ ganda banho-de-bola”. Em tudo isto António, O Costa, remeteu-se ao silêncio escondendo-se uma vez mais nas cordas com o argumento que tudo tem de ser ponderado e é um homem de consciências.

 

Do Costa, desculpem, do António, de quem a maioria dos portugueses e penso que também dos simpatizantes do Partido Socialista, está-se a borrifar se foi leal ou desleal, traidor ou fura-acordos e se preocupam mais com quem poderá ser o seu primeiro-ministro, ficamos a saber que é ponderado porque terá um plano para o país, que também assenta no Estado Social, no crescimento e no emprego e numa sociedade de ideais de esquerda que mais tarde saberemos em que tudo se fundamenta como que numa benevolência magnânima para não nos saturar com muita informação.

O debate, que ficará conhecido como o dos “Antónios” ou do “…isto não se faz António”, resumiu-se á imagem de um combate de boxe, em que um dos pugilistas, desta vez o António, o Seguro, entrou de rompante mostrando estar cheio de energia e vivo, bateu, bateu mas sempre com a mesma mão enquanto António, o Costa, se refugiou ordeiramente nas cordas, no canto menos iluminado esperando que o seu adversário se perdesse no seu próprio folguedo. No final, os treinadores torceram o nariz, limpou o suor da testa, antevendo tempos difíceis e disse: “Olha António…se queres ganhar isto tens que fazer mais….”

 

Teria sido um bom debate nos anos oitenta mas para um congresso da Juventude Socialista mas a idade dos Antónios já não permite estas coisas e o país merece mais. Hoje, como nas longas noites do Festival da Canção das décadas de sessenta e setenta do século, o país vai-se sentar a assistir ao segundo round entre os Antónios, torcendo entre a Madalena Iglésias e a Simone de Oliveira! Desculpem: entre o Seguro e o Costa! Eu cá por mim prefiro o Paulo de Carvalho só por causa do “…E depois do Adeus”, cujos primeiros versos bem podiam ser declamados pelos dois (nenhum parece ter voz para cantar): Quis saber quem sou / O que faço aqui / Quem me abandonou / De quem me esqueci… - e seria como uma justificação para este medíocre desempenho que nos deram ontem!

 

Os portugueses precisam de mais e melhor para acreditar neste PS que se vai agonizando até às eleições do final do mês, de debate em debate. Cheguem elas rápido e pare a pobre opereta!

 

José Carlos Madeira

 

 

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