Como é fácil de verificar tenho andado ausente deste blogue, como dizem alguns amigos com as "mordidelas" por escrito em suspenso! Não por vontade de as dar mas por falta de tempo e espaço numa vida preenchida e que durante o último ano me ocuparam outras tarefas. Não sei se mais sadias do que esta de escrever mas importantes para a sobrevivência de uma família num país mirrado, cinzento, triste e desmotivado, sentados á beira-mar resignados observando um horizonte demasiado curto, estreito e cinzento - os horizontes querem-se prolongados, largos, com luz e cor. Neste tempo de ausência passou por este país um vendaval carregado de "previstos imprevistos". Caiu sem redenção um governo, não se cumpriram promessas de programas eleitorais, esconderam-se realidades, adiou-se um país com decisões por tomar, os lobbies continuaram o seu caminho de enraizamento na estruturas do estado, criou-se e se propagou uma nova realidade institucional chamadas PPP's (Parcerias Publico-Privadas) que se multiplicaram como os cogumelos, pequenos e grandes escândalos, pedimos pela terceira vez na nossa vida democrática de 38 anos ajuda a terceiros para os problemas que criámos e nos criaram, surgiu a Troika com os senhores tecnocratas e os já nossos conhecidos do FMI. Surgiram eleições, novas promessas dos mesmos e dos outros, um novo governo, novas-velhas, uma nova maioria, o regresso de outros lobbies e personagens, e a triste imagem da tentativa de sobrevivência dos anteriores! Compenetrados e castrados á ajuda dos outros, a palavra Troika entrou no quotidiano de todos como uma marca de refrigerante azedo ou nome de telenovela de horário nobre com um mau enredo de vilões de fraca esperteza, virgens púdicas e outras personagens entediantes, sem que a maioria entenda quem a compõe, quem são e porque vêm. E de facto perante a necessidade de sobreviver porquê nos importarmos com a semântica senão há centeio e milho na mesa? Esclareço os mais incautos que das linhas acima não se entenda que sou contra á inevitabilidade circunstancial do pedido de ajuda externa, porque não é desonra pedir auxilio e quem pede tem a liberdade de aceitar ou rejeitar as contrapartidas de quem dá! Sou é contra o sentimento redutor que a vida de um país se governa navegando á vista, penalizando estas e as próximas gerações, com tecnocratas bem engomadinhos e sorumbáticos compenetrados como um aluno marrão desajeitado sempre de dedo no ar a mostrar a sapiência que não tem, que todos conhecemos nas carteiras da escola, que de tão alheado nunca conheceu o gosto de uma futebolada à chuva, o gosta das pingas na cara, o sabor infantil do primeiro beijo, o delírio de molhar os pés nas poças de inverno. Que neste país que vos escrevo haja Poetas, músicos, pintores, artistas de circo que nos preencham a alma e a imaginação que resta da amargurada realidade que nos é servida. Apetece-me dizer: venha a Arte e nos exalte – e repetir os versos do poeta “…Mais que isto / É Jesus Cristo / Que não sabia nada de finanças / Nem consta que tivesse biblioteca…” - Se hoje as tivesse escrito e publicado haveria uns quantos intelectuais funcionários zelosos do sistema a acusá-lo de incentivo à iliteracia, ao absentismo escolar, á ignorância, até onde a imaginação limitada de um obediente e subserviente burocrata atinge. De tanto que se passou seria melodramático, enfático, soturno, sonolento fazer uma longa crónica a este tempo, porque como digo em outros lugares a mesma água não desce duas vezes o mesmo rio e depois de o descer para quê o tornar a subir se já se conhecem a as suas margens quando chegados à sua foz tem-se tanto mar para navegar! Alguns, poucos, na nossa história tiveram essa visão, se assim não fosse não teríamos a possibilidade de hoje repetirmos exaustivamente numa melancolia que mata e corrói devagar o verso do Bom Poeta que houve tempos "...que demos novos mundos ao mundo"! Por esta razão decidi-me por “mordidelas” nas margens de águas presentes ou recentes.
José Carlos Madeira